Sobre mim

Janaíne Paiva
4 min readJul 21, 2022

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Eu sempre ensaio falar sobre e sempre me acho muito da prepotente, mas sei que de medíocres o mundo tá cheio e eles adoram falar.

E eu penso, ela me tortura e eu escrevo. Não me deixa dormir, me cutuca com um graveto de frases se repetindo, como se ideias fossem. Assopra no meu ouvido coisas que fazem até certo sentido.

Faz de um tudo que me levanta, me move, até que meus dedos tec tec. Me lembro da minha professora falando que o ideal é escrever com lápis e papel, deixar as palavras saltando, não parar de escrever.

Eu gosto do digital, do tec tec do teclado soltando fumaça com a velocidade na qual imprimo meus horríveis pensamentos.

Pensamentos que eu canso de dizer, de bradar, de ficar enfiando caraminholas nas cabeças por aí. Mas que no fim, eu só quero falar pra mim.

em preto e branco as mãos e braços de uma pessoa dançando na grade de uma festa
agradecimento especial p @cande.etche que me disponibilizou as fotos ok

Dia desses muito doida de bala, de manhã cedo já.. Fiz o que nenhum doido sozinho deveria fazer: fiquei me encarando no espelho.

E mil pensamentos, mil coisas se atropelando na minha mente. Uns cinco minutos vidrada na minha própria imagem, pensando essa é minha imagem? que imagem eu quero passar? E de repente um arrepio me partiu ao meio. Meu semblante era neutro, como quem não quer passar nada, essa sou eu. Meu eu mais puro, sem olhar, sem sorriso, sem mensagem. O meu eu neutro me dava arrepios.

Pensei Eu sou uma bruxa? Eu pareço uma bruxa.. se eu fosse criança acharia que eu sou uma bruxa. Com certeza! Daí eu pensei, bom, se eu fosse uma criança eu adoraria conhecer uma bruxa dessas…

E aí eu entrei a bordo do trem que ia salvar minha auto estima aquele dia. E você, quer me acompanhar nessa viagem? Vamos lá!

Sim, vamos voltar pro começo da noite, lá quando meu coraçãozinho batia xoxo e descompassado. Pequeno, murcho, quase empoeirado. Sentindo o peso de mil encostos que só um banho de anil poderia curar.

Eu que não sou boba nem nada, fui me aninhar, já fiz sorrisos, já dei abraços e chaves para encorajar.

Eu amo aquela lá do “quem dança seus males espanta” porque é verdade e eu posso provar. Nesse dia eu só queria dançar estranho. Não tava bom ficar trancada e meu quarto parecia pequeno demais pro tamanho das paranoias que eu queria criar.

E aí eu fui, meus males espantei. Tava feliz, satisfeita, enorme, como costumamos dizer por aqui. Gigante. Sim, era eu. Com um tecaço de bala no nariz, andando por aí de fone de ouvido pensando É, foi bom, que bom que eu fui.

apenas obg

E aí volta lá pra casa, tomei um banhão daqueles ouvindo trance. Ouvindo mais especificamente o set que iria em breve tocar mais uma vez a minha vida (não seria a primeira). E aí trance pra lá, trance pra cá, eu transcendi, confesso.

Transcendi olhando pra minha própria cara e pensando tanta coisa que chorei, sorri, comecei a me abraçar em nó, dando tapinhas nas minhas próprias costas e cochichando “eu sempre vou estar aqui pra você” bem baixinho, “eu sempre vou estar aqui pra você”.

E eu reparando em cara traço, em cada ruga, em cada marca que minha cara tem, pensando esse lado parece mais velho porque é o lado que eu durmo de bruços… o outro lado mais jovem, ne? preciso parar de beber…mas fumar é tão bom...queria parar não…mas meio triste esse lado, ne, esse lado amassado… esse lado mostra o tanto que eu já sofri.

Aí entrou o que eu aprendi assistindo Naruto, aquele papo de que você não tem que ignorar seu sofrimento. Ele é responsável por boa parte do que você é hoje, mas serviu só até ali. Depois disso, depois que você percebe, ele é só isso, passado.

Dai lembrei do Naruto abraçado na sua versão “má” e aceitando a existência dela, até que ela se desfaz e desaparece em seus braços, ele entende…E bom, vence.

E aí eu queria vencer, eu queria vencer essa bad vibe de ficar olhando pra minha própria cara pensando merda sem sentido. Nisso, o trancezão no talo, isso que importa.

E foi chegando na parte que mais me emociona do set, bem emotiva mesmo, daquelas que você parece que tá dançando no próprio Sol, mas é só qualquer pista suja do universo.

E meu pensamento foi tão longe, que eu já tava não só abraçando a versão atual de mim mesma, como também batia nas costas da minha criança, que mora dentro de mim e é uma pequenina traumatizada.

Abracei, chorei, sorri. E quando achei que o set ia acabar, ainda era só o começo do final.

Então pensei e se eu pegar o sugador de clitóris que ganhei esses dias, o que será que vai acontecer? Era muito amor o que eu sentia por mim mesma ali, isso eu posso te garantir. E no tu-tututu-tututu do trance, eu juro, eu transcendi.

Não era orgasmo aquilo ali, era noia surfando uma onda especial, sem ninguém em volta pra julgar, sem precisar me preocupar com as impressões dos outros, só a minha.

Sei que uma hora eu já tava dançando esticada no chão, sufocando o robô polvinho com meus pêlos pubianos, chorando emocionada com o fato de que sim, eu me basto e eu me amo. Eu sempre vou amar.

E por mais que a imagem que as pessoas têm da gente pareça importante, pareça relevante… “não porque nem sempre*”.

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