Frutas, beatbox e a estrela do mar

Janaíne Paiva
5 min readFeb 28, 2023

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Era só uma sexta feira quente. Quente, quente mesmo, trinta e três graus, eu vi no termômetro. Eu tava de passagem, correndo, saindo de uma reunião, olhei e tava lá, 3 bandejas de morangos por 10 reais.

Na hora você se emociona você fala “não é possível”, mas quem já viveu uns vinte minutos sabe que eles fazem isso porque o negócio já tá mais pra lá do que pra cá. Não importa, eu comprei e vim carregando de lá aqui.

Enquanto eu selecionava carinhosamente meus morangos, comecei a perceber que a natureza tem dessas, essas pegadinhas, esses lero lero, que de vez em quando uma coisa puxa a outra e quando você vê já era.

Porque quando eu percebi que meu morango tava passado, que meu período fértil tava gritando pela maneira que eu manuseava e comia as coisas, pela suculência da fruta e minha boca molhada, aí já era tarde demais.

Fui transportada pra outra tarde quente, outro sabor de fruta mordida, outro tesão no talo, cé loco.

Que ódio do corpo humano que conversa com as coisa tudo do mundo.

Sei que lembrei desse dia que escondi por tanto tempo, mas que tá na hora de dividir o que vivi e enquanto vivia tinha certeza que era um acontecimento único e especial. Só meu, pra mim.

Pra começo de conversa, ele desceu as escadas pra me encontrar do jeito mais tesão possível, bem flek flek, como quem não quer nada: regata, havaianas e shortinho de futebol (pra deixar os garoto brincar).

Eu já falei que tava quente?

Tava muito quente, calorzão, sei lá, três da tarde, ele desceu já me chamando pra colar com ele ali na esquina pra gente comprar umas frutas pra ele fazer um suco.

Chegou lá se exibindo né, íntimo do mano “qual fruta tá boa, qual que tá? uhum” pagou, pagou, vamo lá pro terraço…

Eu toda de preto, não propositalmente, tá? É que minhas roupas brancas e coloridas tavam lavando na casa de um amigo e eu só tinha essas mesmo.

O céu azul perfeito, sol estralando, eu juro pra você que na minha frente só esse moreno, alto, gostoso, bigodudo, abocanhando um pêssego super fresco, mais suculento que a bahia de Guanabara inteirinha, meu deus do céu.

Eu não tava acreditando, eu devia tá fazendo que não com a cabeça enquanto ele chupava aquela fruta da maneira mais pornográfica possível, exibindo um sorriso mais lascivo impossível.

Escorria suco pelas mãos, ele ria e lambia, e chupava, e comia e me oferecia e eu “não não, obrigada” me deixa aqui na minha sombra toda vestida de preto.

Tomei o suco de duas ou três frutas misturadas, que nem preciso dizer estava delicioso e fiquei ali fumando maconha de conversinha, aquele tititi antes do abate massacrante.

Mas a porra do shortinho de futebol entrega tudo ne, porque o tecido é leve e confortável, deixa tudo com espaço pra jogar.

Só que eu tava aguentando tão bem sendo misteriosa e tava parecendo tudo tão mágico, que eu fui deixando rolar pra ver o que ia acontecer.

Contei coisas do lugar onde eu cresci, ouvi coisas do lugar que ele cresceu, como começou a cantar e tocar violão, tudo que dava pra enrolar.

Eu sabia que ia ter show, eu só cruzei as pernas e fiquei mirando, ele cantou músicas lindas, numa performance bem cigana, com a unha enorme pra dedilhar melhor e eu só fitando sem acreditar.

A música falava sobre caminhar, subir uma montanha e chegar lá em cima pra descobrir que a coisa mais importante do mundo era o amor e os caralho a quatro, bem poesia mesmo, bem coisa de hippie, mas lindo de verdade.

Sério, parecia que eu tava na minha própria sessão da tarde, não dava pra filmar, só tinha eu e ele e eu só queria ligar pra todo mundo pra falar “você não vai acreditar no que acabou de acontecer” e ainda tinha muito chão pela frente.

Cantou cantou, tocou violão horrores, aí perguntei como começou isso e ele disse que na verdade o que ele fazia era rimar, e aí claro, começou a rimar, mas que antes disso, ele fazia beatbox.

E aí sim. Ele começou a fazer beatbox.

Assim na minha frente.. vários gêneros musicais, ta? Ele falou “você gosta de techno ne?” e aí tocou um techno na bochecha e depois fez virar um trance, dps um psy, foi coisa de maluco, eu juro por deus eu queria ter gravado, mas tá só na minha cabeça.

Fiquei saboreando cada minuto desse show em silêncio pensando deixa ele… deixa…. deixa arder.

Sei que depois de VINTE MINUTOS do melhor beatbox que eu já vi na vida, acho que os truques do garoto finalmente tinham acabado pra gente poder beijar na boca e deixar o shortinho de futebol virar barraca.

Aí a tarde já tava indo embora, o dia escurecendo, a gente foi descendo de mãos dadas pro quarto dele, bem casalzinho adolescente prestes a aprontar firulas mil.

Aí acho que foi a deixa pra começar o MEU show.

A tatuagem de pinguim no peito do mano só preu usar de desculpa e ja dá-lhe um chupão no mamilo, pra saber que eu não tava de brincadeira.

Acho que as pessoas se prendem muito no manual das outras, eu chego lambendo tudo, o que gemer mais alto eu volto e lambo duas vezes.

Sei que em certo momento já tava lá encafifada no popozão do rapaz latinoamericano, descobrindo territórios nunca antes tocados e ele emocionado se esticando tal qual uma estrela do mar muito feliz e realizada.

Eu nunca tinha feito isso antes, um homem gozar comigo só chupando a bunda dele, sem encostar em mais nada, mas sinceramente foi lindo, pareciam fogos de artifício só que no lugar dos fogos era sêmen.

Levantei e fui pro banheiro me limpar bem tranquila, leve e satisfeita por ter feito minha parte no nosso espetáculo.

Quando voltei dei de cara com ele sentado, quase que encolhido como um filho que a mãe esqueceu na escola, olhando pro horizonte e falei “tudo bem?”

“ninguém nunca tinha feito isso comigo” ele falou bem envergonhado assim, eu só ri e falei “tá tudo certo é assim mesmo”, peguei minhas coisas e fui embora.

Sim, assim que fechei a porta liguei pro meu melhor amigo pra contar porque não é possível que não era uma pegadinha uma porra dessas, vai se foder mano, beatbox.

Eu também falo de bunda no Twitter: @janainepaiva

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